Introdução
Olá, prezado(a) aluno(a), nesta unidade abordaremos alguns itens que devem permear o processo de ensino e aprendizagem e que os auxiliarão no desenvolvimento de suas aulas, considerando a inclusão inserida no ensino regular. Dessa forma, faremos uma breve explicação sobre o conceito de inclusão, ou seja, em que consiste o processo de inclusão dentro da educação brasileira. Em seguida, teceremos alguns comentários sobre o processo de avaliação no ensino regular, abordando quais os tipos de avaliação realizadas no ensino regular. Outro item a ser trabalhado refere-se à educação inclusiva e o processo avaliativo, como o processo avaliativo ocorre quando nos apropriamos das questões que envolvem a inclusão no processo de ensino e aprendizagem. Por fim, abordaremos algumas ações avaliativas que podem ser realizadas quando nos referimos ao processo de inclusão na educação regular.
Concepção de Inclusão
Ao fazermos uma breve busca no dicionário Michaelis, da Língua Portuguesa, sobre o significado da palavra inclusão, iremos nos deparar com a seguinte definição: “Estar incluído ou compreendido; fazer parte; inserir-se”.
Em relação à educação, notamos que a inclusão tem como objetivo promover uma educação para todos, assim, o espaço escolar é responsável por oferecer a todas as crianças e jovens inseridos neste ambiente o contato com o conhecimento, no entanto, sabemos que a construção de uma escola inclusiva implica vários fatores, entre eles, promover um ensino de qualidade.
SAIBA MAIS
Saberes e Práticas da Inclusão
Para saber mais a respeito da construção das escolas inclusivas, acesse <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/const_escolasinclusivas.pdf> e verifique como ocorre o processo de inclusão na educação básica.
Fonte: Elaborado pelas autoras.
Notamos, deste modo, que a inclusão, no âmbito escolar, refere-se à participação efetiva de crianças e jovens com necessidades especiais físicas, mentais, motoras, entre outras, em todos os aspectos, tendo contato com o conhecimento e, consequentemente, participando do processo de ensino e aprendizagem.
No mais, ao nos referirmos ao conceito de inclusão atualmente, atentamos aos muitos desafios enfrentados pela instituição escolar. Nos deparamos com a reorganização desses ambientes, o atendimento educacional especializado, a acessibilidade estrutural das escolas, avaliação, entre outros, conforme explicita Mantoan (2006, p. 56):
A inclusão é uma inovação que implica um esforço de modernização e de reestruturação das condições atuais da maioria de nossas escolas [...], ao assumirem que as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, mas resultam, em grande parte, do modo como o ensino é ministrado e de como a aprendizagem é concebida e avaliada.
Sob esse viés, podemos notar que a inclusão consiste no ato de incluir, acrescentar ou, melhor explicitando, adicionar coisas ou pessoas a grupos que não pertenciam anteriormente. No âmbito social, a inclusão refere-se a um ato de igualdade entre os diferentes indivíduos que pertencem a determinada sociedade.

Fonte: Rawpixel, 123RF.
Assim sendo, a inclusão permite que todos tenham o direito de integrar e participar das várias dimensões de seu ambiente, sem sofrer qualquer tipo de discriminação e preconceito, ou seja, tais considerações devem ser relacionadas também no que diz respeito ao ambiente escolar e ao processo de inclusão educacional.
REFLITA
Recomendações para a Construção de Escolas Inclusivas
Segundo as recomendações para a construção de escolas inclusivas, alguns alunos com necessidades especiais revelam não conseguir atingir os objetivos, conteúdos e componentes propostos no currículo regular ou alcançar os níveis mais elementares de escolarização. Essa situação pode decorrer de dificuldades orgânicas associadas a déficits permanentes e, muitas vezes, degenerativos que comprometem o funcionamento cognitivo, psíquico e sensorial, vindo a constituir deficiências múltiplas graves.
Fonte: BRASIL (2006, p. 77).
O Processo de Avaliação do Ensino Regular
Avaliar, ou ser avaliado, refere-se a ações ligadas ao nosso cotidiano, na escola, no trabalho, em casa ou em qualquer outra atividade realizada. Entretanto será que o que fazemos são realmente avaliações? Ou são meramente reflexões e/ou análises? Para tanto é necessário pensar no conceito/na significação de avaliação.
Conforme explicita Ferreira (2010, p. 82), avaliação significa “Ato ou efeito de avaliar. Valor determinado pelos avaliadores”. Podemos, ainda, complementar esse significado com o conceito de avaliação adotado por Luckesi (2005, p. 33): a “avaliação é um julgamento de valor sobre manifestações relevantes da realidade, tendo em vista uma tomada de decisão, a partir de um critério estabelecido”.
Sob esse viés, ao se avaliar um aluno, uma atividade ou uma prova aplicada, é comum o professor atribuir um devido valor, ou seja, ele decide qual valor o aluno deverá ter, não considera a avaliação como um método de verificação da aquisição do objetivo proposto. Sabemos, porém, que não existe um critério preestabelecido que seja utilizado por todos os docentes para avaliar seus alunos, visto que cada docente tem o seu. Jussara Hoffmann explicita ainda:
A avaliação é substancialmente reflexão, capacidade única e exclusiva do ser humano. De pensar sobre seus atos, de analisá-los, julgá-los, interagindo com o mundo e com os outros seres, influindo e sofrendo influências pelo seu pensar e agir. Não há tomada de consciência que não influencie a ação. Uma avaliação reflexiva auxilia a transformação da realidade avaliada. (HOFFMANN, 2006, p.10).
É válido salientar, ainda sob essa perspectiva, quando o professor avalia seu aluno, está comparando-o, classificando-o, conforme seu desempenho. Nesse sentido, perguntamo-nos: como ficam os alunos que se encontram nas últimas posições da classificação? Em outras palavras, o que os professores fazem com os alunos que não aprenderam?
Existem muitas discussões em relação ao conceito de avaliação, assim, notamos que Stufflebeam (1980) nos apresenta um conceito de avaliação que expressa flexibilidade ao dizer que avaliação é “delinear, obter e fornecer informações” para em seguida, se decidir que caminho tomar. Assim, como professores, deixaremos nossos alunos naufragar ou jogaremos um bote salva-vidas? Quando tomamos a avaliação como ferramenta de auxílio no processo de construção do conhecimento, jogamos um bote salva-vidas aos nossos alunos, pois oferecemos a eles a possibilidade de reconstruir o conhecimento que ficou perdido no caminho.
Perrenoud (1999, p. 10) afirma que “(...) A avaliação regula o trabalho, as atividades, as relações de autoridade e a cooperação em aula e, de certa forma, as relações entre a família e a escola ou entre profissionais da educação”. Ou seja, “(...) nossos alunos são comparados e, depois, classificados em virtude de uma norma de excelência, definida no absoluto ou encarnada pelo professor e pelos melhores alunos” (PERRENOUD, 1999, p. 11).
Ao considerarmos o processo avaliativo como um todo, que visa não apenas classificar e excluir o aluno, deparamo-nos com funções da avaliação, descritas por Haydt (2002, p. 16), a saber:
- diagnosticar;
- controlar;
- classificar.
Dessa forma, de acordo com o autor, avaliação diagnóstica “é aquela realizada no início do curso, período letivo ou unidade de ensino”, ou seja, é um levantamento dos conhecimentos dos alunos, dos conhecimentos já adquiridos. A avaliação formativa “tem a função de controle”, é utilizada no decorrer do ano letivo para verificar se os objetivos estão sendo alcançados (HAYDT, 2002, p. 17). Já a avaliação somativa, segundo Haydt (2002, p.18), “tem a função classificatória”, é realizada no fim do período ou ano letivo, seu intuito é observar se os alunos atingiram os objetivos propostos, tem a função de promover ou não o aluno para a próxima etapa escolar.
Haydt (2002), no quadro a seguir, nos apresenta, de forma resumida, as funções e os objetivos das três modalidades de avaliação descritas.
Quadro 3.1: Modalidades e funções da avaliação
Fonte: Haydt (2002, p. 19).
Ao fazermos uma breve análise do quadro, notamos que os três tipos de avaliação, quando desenvolvidos em comunhão, poderiam dinamizar o sistema avaliativo das instituições de ensino, afastando as funções e o uso errôneos que os professores empregam à avaliação, assim como o medo dos alunos.

Fonte: Nontawat Thongsibsong, 123RF.
Nesse contexto, a avaliação tem que ser aplicada como um instrumento para o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos, e não como um instrumento de classificação e exclusão.
A Educação Inclusiva e o Processo Avaliativo
Ao fazermos uma breve consulta ao dicionário da Língua Portuguesa Aurélio, observamos que o termo avaliação consiste em “determinar o valor de algo por meio de um processo de apreciação, de ajuizamento ou de análise”, dessa forma, de acordo com o que já foi mencionado anteriormente, Luckesi (2005, p.09) refere-se ao termo avaliação como “juízo de qualidade”, conforme explica: “O termo valor possui uma significação sócio-filosófica-política abrangente que ultrapassa os limites instrumentais da avaliação da aprendizagem que subsidia as decisões do processo ensino-aprendizagem”.
Sob os aspectos norteadores do processo avaliativo da educação regular, é válido salientar que a avaliação tem como objetivo primordial formar e não excluir o aluno, proposta que conduz o trabalho da educação inclusiva, ou seja, a aplicação de uma avaliação transformadora, que visa a aprendizagem significativa do aluno. Para Vasconcellos “avaliar é ser capaz de acompanhar o processo de construção do conhecimento do educando, para ajudá-lo a superar obstáculos. (VASCONCELLOS, 1998, p. 55).
Ainda de acordo com os preceitos defendidos até o momento, precisamos considerar que a avaliação deve fazer parte do dia a dia escolar, dessa forma, é necessário o uso de diferentes instrumentos avaliativos, que auxiliarão o avaliador a identificar progressos e limitações na aprendizagem do conteúdo explorado. Portanto devemos considerar que cada aluno é único e que, em sala de aula, o processo de aprendizagem é heterogêneo, por isso, as peculiaridades de cada aluno devem ser consideradas no momento de avaliá-lo. Assim, Luckesi, (2005, p. 305) reitera:
[...] o que devemos observar é se os instrumentos que estamos utilizando são adequados aos nossos objetivos e se apresentam as qualidades metodológicas necessárias de um instrumento satisfatório de coleta de dados para a prática da avaliação da aprendizagem.
Ao considerarmos as especificidades de cada aluno, é preciso ter em mente o cuidado com a escolha do instrumento que avaliará se o aluno aprendeu, se houve a aquisição do conhecimento, respeitando as limitações desse aluno.
Em relação à educação inclusiva, devemos considerar o processo avaliativo como uma prática mais sensível, em que deve ser planejada e o objetivo do uso de determinado instrumento deve ser muito bem delimitado, pois as necessidades apresentadas pelos alunos vistos como de inclusão devem ser bem trabalhadas, assim, o processo avaliativo deixa de ser excludente e passa a ter um valor formativo. Diante desses fatos, a avaliação deixa de ser um instrumento de aprovação e reprovação e passa a auxiliar o professor no processo de aprendizagem de seu aluno.
Nesse contexto, notamos que o processo avaliativo direcionado à educação inclusiva, ainda que de forma tímida e com muita discussão por parte dos professores, necessita de adequações para que o aluno seja avaliado dentro de suas especificidades, de acordo com o que foi apresentado nas recomendações para a construção de escolas inclusivas (BRASIL, 2006c, p. 65),
[...] As demandas escolares precisam ser ajustadas, para favorecer a inclusão do aluno. É importante observar que as adequações focalizam as capacidades, o potencial, a zona de desenvolvimento proximal (nos termos de Vygotsky) e não se centralizam nas deficiências e limitações do aluno, como tradicionalmente ocorria.
Nesse sentido, as necessidades e limitações dos alunos devem ser conhecidas, objetivando uma avaliação que promova a potencialidade desse aluno e não o exclua do processo educativo.

Fonte: Viacheslav Iakobchuk, 123RF.
Assim, as adaptações avaliativas são de extrema necessidade, considerando uma avaliação diferenciada, cujo objetivo consiste em desenvolver as habilidades individuais, sanando as dificuldades e aprimorando as potencialidades apresentadas em cada aluno. Conforme observamos nas recomendações para a construção de escolas inclusivas, elaborado pelo MEC:
Propõem modificações sensíveis na forma de apresentação das técnicas e dos instrumentos de avaliação, na linguagem, de um modo diferente dos demais alunos de modo que atenda às peculiaridades dos que apresentam necessidades especiais. (BRASIL, 2006, p.64).
Sabemos que o uso de diferentes instrumentos de avaliação em sala de aula é algo desafiador ao professor, entretanto, é preciso ousadia e determinação, para que consigamos colocar em prática uma educação inclusiva verdadeira e que faça com que os nossos alunos aprendam de forma significativa.
Ações Avaliativas na Educação Inclusiva
Em nossas leituras, até o momento, observamos que o ambiente escolar deve se adaptar tanto estruturalmente quanto em relação ao currículo para que a educação inclusiva se concretize de forma satisfatória. Sendo assim, várias adaptações no processo de ensino e aprendizagem devem ser realizadas para que as necessidades de cada aluno sejam sanadas, tanto na forma como o professor atua em sala de aula, como também nos instrumentos avaliativos que devem ser repensados, para que a inclusão se efetive verdadeiramente.
Sob esse viés, algumas adequações em relação ao processo avaliativo devem ser realizadas, conforme explicitam as recomendações para a construção de escolas inclusivas:
[...] alteração nos métodos definidos para o ensino dos conteúdos curriculares; seleção de um método mais acessível para o aluno; introdução de atividades complementares que requeiram habilidades diferentes ou a fixação e consolidação de conhecimentos já ministrados - utilizadas para reforçar ou apoiar o aluno, oferecer oportunidades de prática suplementar ou aprofundamento. São facilitadas pelos trabalhos diversificados, que se realizam no mesmo segmento temporal; introdução de atividades prévias que preparam o aluno para novas aprendizagens; introdução de atividades alternativas além das planejadas para a turma, enquanto os demais colegas realizam outras atividades. É indicada nas atividades mais complexas que exigem uma sequenciação de tarefas; alteração do nível de abstração de uma atividade oferecendo recursos de apoio, sejam visuais, auditivos, gráficos, materiais manipulativos etc; alteração do nível de complexidade das atividades por meio de recursos do tipo: eliminar partes de seus componentes (simplificar um problema matemático, excluindo a necessidade de alguns cálculos, é um exemplo); ou explicitar os passos que devem ser seguidos para orientar a solução da tarefa, ou seja, oferecer apoio, especificando passo a passo a sua realização; alteração na seleção de materiais e adaptação de materiais - uso de máquina braille para o aluno cego, calculadoras científicas para alunos com altas habilidades/superdotados etc. (BRASIL, 2006, p. 64).
Nesse contexto, observamos que as ações avaliativas devem ser realizadas em consonância com os demais profissionais envolvidos no diagnóstico e não simplesmente pelo professor e diretor da escola. Há toda uma reorganização com o auxílio dos profissionais que ajudam no desenvolvimento do aluno.

Fonte: Artisticco, 123RF.
Essas ações no processo de avaliação do aluno visto como de inclusão, auxiliarão o professor no momento em que tem de mensurar uma nota ou verificar se houve uma aprendizagem significativa dos conteúdos trabalhados, considerando as necessidades de cada indivíduo.
É notório salientar, ainda, que alguns professores não concordam com as adaptações realizadas no currículo para construir uma escola inclusiva, entretanto, essas adaptações não significam “abrir mão” de um ensino de qualidade, mas sim criar alternativas para que os alunos de inclusão não sejam excluídas no momento da aquisição do conhecimento.
Beyer (2010, p.100 e 101) elaborou um quadro que retrata a avaliação da aprendizagem dos alunos com necessidades educacionais especiais, apontando reflexões acerca da avaliação e da autoavaliação, considerando a interatividade a contextualização da aprendizagem do indivíduo:
Quadro 3.2: Avaliação e autoavaliação na aprendizagem do indivíduo
Fonte: Hugo Otto Beyer (2010, p. 101).
Sabemos que ainda há muito que se fazer para construir uma escola inclusiva verdadeiramente efetiva, entretanto, o primeiro passo já foi dado para que os alunos com necessidades especiais possam ter acesso a um ensino de qualidade, levando os professores a repensarem suas práticas em sala de aula, inclusive, avaliando os instrumentos utilizados para avaliar cada indivíduo que está inserido no âmbito escolar.
REFLITA
Inclusão Efetiva
De acordo com as recomendações para a construção de uma escola inclusiva, notamos que alguns programas, devido à expressividade das adequações curriculares efetuadas, podem ser vistos como currículo especiais. No entanto de que forma podemos fazer a inclusão efetiva se não fizermos as adaptações necessárias para que esse aluno tenha acesso ao conhecimento?
Fonte: Elaborado pelas autoras.
Sistema Nacional de Educação e Plano Nacional de Educação
Editora: Autores Associados
Autor: Dermeval Saviani
ISBN: 9788574963259
Ano: 2014
Comentário: O respectivo livro abordará sobre o sistema nacional de ensino, acarretando em um valioso auxílio a todos que se encontram empenhados em construir uma educação sólida em noss o país, pois abre um leque de perspectivas a longo prazo, assegurando uma educação significativa às novas gerações.
